Ainda estou admirando a flor da última primavera, ela é linda e resistente. Apesar de muitas folhas verdes, consigo vê-la daqui. Sem sentir o perfume, que saudoso perfume. Quantas lembranças de primaveras floridas.
Eu lembro da semente. Escolhi ainda criança que queria plantar girassóis, quanto li Um Girassol na Janela, por Ganymédes. Nunca fiz isso. Mas um dia encontrei essa semente, achei interessante sua casca dura e ter uma cor tão singular. Eu nunca pensei que cresceria até virar uma árvore.
Suas raízes foram se aprofundando, e se entrelaçaram nas minhas. Os primeiros brotos eram esquisitos, pareciam papel. E antes de florescer, parece que umas bolinhas de algodão saíram dali. O tempo passou, vi seu tronco ficar firme, madeira densa. Entre uma temporada e outra, algumas flores brotaram e se foram.
Alguns ventos estavam tentando derruba-la, foi quando construí um muro mais alto no quintal. Assim não haveria risco de chacoalhar. Por fim, fui cercando minha árvore com outras plantas. Pensei que o jardim ficaria mais bonito. E aos poucos fui criando um labirinto até a minha árvore favorita.
Ela tem traços tão meus, tem as marcas de um balanço no galho mais alto. Tem lembranças ternas de dias que me abriguei da chuva.
Ainda chego nela quando atravesso todo labirinto. O labirinto que eu mesma criei. Esqueci que quando a gente coloca uma flor no arredoma, não é possível tocá-la ou sentir seu perfume.
Preciso abrir caminho, o perfume vale mais que os espinhos.
Carola Guimarães